"Este livro nasceu de um interesse inicial em estudar o Holocausto em escritores judeus que não tivessem uma conexão familiar ou pessoal com esse evento histórico. Me interessava como pesquisadora pensar a relação com uma memória cultural que não correspondesse à história pessoal, além de olhar para como essa memória molda a arte de escritores judeus para além dos caminhos mais tradicionais de pesquisa, centrados nos testemunhos ou na ideia do trauma transmitido dentro de uma família. Este recorte levou a um estudo da comunidade judaica dos Estados Unidos, na qual a maioria dos imigrantes chegou no final do século XIX e início do século XX, uma vez que em 1924 o país instituiu o sistema de cotas migratórias que, na prática, fechou as fronteiras para novos imigrantes judeus. Essa formação populacional teve como consequência que, na década de 1930, quando a ascensão do nazismo começa, já existisse nos Estados Unidos uma comunidade numérica e culturalmente muito significativa, assim como judeus que eram a terceira geração de imigrantes e que se consideravam plenamente americanos. Portanto, quando o Holocausto acontece na Europa, há nos Estados Unidos um contingente considerável de judeus para quem essa experiência permanece distante e estrangeira e cuja história familiar não possui qualquer convergência com esse evento específico na história judaica. Além disso, nos anos que se seguem, o Holocausto se torna o símbolo maior de um aspecto definidor da experiência judaica até então: a perseguição e a violência. Contudo, embora existisse e, ainda exista, antissemitismo nos Estados Unidos, sua agressividade nunca se igualou a da Europa e essa comunidade possuía como experiência mais comum uma trajetória de ascensão social e prosperidade econômica. Todos esses elementos confluíram para tornar interessante o estudo da temática do Holocausto em escritores judeus americanos. Dentre esse grupo de escritores, Philip Roth se destaca pela importância no cenário literário e investigação continuada de questões relativas à identidade judaica e principalmente dos para - doxos relativos a essa identidade em sua obra. Sendo um escritor muito estudado academicamente e abordado com frequência pela crítica literária de forma mais ampla, alguns clichês se construíram em torno da obra de Roth e o principal deles é a ideia de 'fabulações da identidade', um conceito que propõe que em seu trabalho a identidade possui uma natureza essencialmente 'performática' e 'instável', ou seja, que Roth discordaria da possibilidade de fixação ou mesmo definição de qualquer forma de identidade. Minha pesquisa considera a parcela de inventividade e encenação presente na formulação que Roth faz do conceito de identidade, mas questiona a ideia de que ela seria plenamente passível de invenção ou mesmo performática." (trecho do texto de apresentação da obra escrito pela autora)
Sobre a autora:
Isadora Sinay é formada em cinema e doutora em literatura judaica pela Universidade de São Paulo. Crítica literária e ensaísta, já publicou em veículos como as revistas Deriva, Pasmas e os jornais O Estado de São Paulo e O Globo. Atua também como tradutora e professora.
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Edição: 1
Ano: 2022
Assunto: Literatura Nacional – crítica e interpretação
Idioma: Português
País de Produção: Brasil
ISBN: 978-65-80672-21-9
Peso: 0,270 kg
Nº de Páginas: 218
Capa e projeto gráfico: Osvaldo Piva
Editora: Folhas de Relva Edições
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